O mar parece estar ainda mais gelado a cada mergulho.
Afundo minha cabeça, sentindo o chicoteio das ondas no cabelo e
no rosto, e o sabor salgado nos lábios.
Empurro as mãos na massa aquosa com os olhos fechados,
relembrando dos meus pais antes do acidente, do quanto fomos felizes.
— Lavínia, Lav! — De repente, emerjo, assustada com o chamado
de Rafael.
Escuto, gradativamente, a voz irritante que tanto temo nos últimos
meses: o filho do namorado da minha tia chuta um pouco a água, se
fazendo mais audível.
Eu, de muita má vontade, volto para a areia, olhando para os lados,
constatando que já é quase noite.
— Rafael? — pergunto, passando a mão no rosto.
O sal, na pele arranhada pela areia, arde e arrepio por causa do
vento forte do início da noite.
Tento alcançar rapidamente minha blusa do trabalho e esconder
que estou só de calcinha e sutiã, porém nada escapa ao imbecil do Rafael,
que é mais rápido do que eu e pega minha roupa, rindo e mostrando uma
toalha.
— Você tá com uma toalha aí, não é? Deixa eu me secar, por
favor? — tento pedir com carinho, a voz baixa e doce, algo que tive que
aprender com os anos, afinal, depois da morte dos meus pais, causada por
um acidente de carro, fiquei sob a responsabilidade da minha tia.
Porém, quando minha tia se separou, se tornou mais frustrada por
ter que cuidar de uma adolescente, o que só a fez mais violenta e
intolerante, até se estabelecer com Júnior, que já tinha um filho, Rafael, o
meu tormento.
— Olha só essas marquinhas de biquini, Lav... Sabe como eu amo
essas marquinhas? — provoca, elevando as mãos com a toalha. Tento
pular e puxar a toalha, mas ele me enrola com o tecido, pairando sua boca
na minha. — Sua tia sempre diz que... você nunca teve namorado, ou
namorada...
— Acho que não é bem da sua conta, Rafael! — Me enrolo na
toalha, pegando algumas das minhas tralhas do chão antes de correr para